Continuando nosso passeio por Santana do Cariri, Região do Cariri, Ceará, visitamos o casarão do Cel. Felinto Cruz, o Museu de Paleontologia da URCA e o Geossítio Pontal da Santa Cruz.
Continuando o passeio por Santana do Cariri, Região do Cariri, Ceará
No dia 22/03/2022 visitamos Santana do Cariri, cidade da Região Metropolitana do Cariri, sul do Ceará, conhecida como a Capital Cearense da Paleontologia.
Depois de duas paradas antes de chegarmos à cidade, quando visitamos os Geossítios Ponte de Pedra e Pedra Cariri, e chegando na cidade visitamos a Igreja Matriz de Santana do Cariri, seguimos pela cidade para mais visitas.
Seguimos da Igreja Matriz para o Casarão do Coronel Felinto Cruz, onde fomos convidados para fazer a visita guiada. Do casarão seguimos para visitar o Museu de Paleontologia da URCA. Em outra oportunidade visitamos também o Geossítio Pontal da Santa Cruz, de onde se tem uma das melhores vistas panorâmicas da Chapada do Araripe.
Casarão do Coronel Felinto Cruz, patrimônio arquitetônico de Santana do Cariri
Chegando ao Casarão Cultural Coronel Felinto Cruz fomos convidados para fazer a visita guiada. Com construção concluída em 1911, é um dos principais patrimônios arquitetônicos de Santana do Cariri, com grande importância na história da cidade.
Agradecemos muito pela atenção com que fomos recebidos.
O casarão que hoje é sede da Secretaria de Turismo do Município, em estilo neoclássico, com estrutura formada por rochas calcárias e madeira de cedro e ipê, é um dos maiores patrimônios arquitetônicos do município, e guarda na sua história um período importante do coronelismo no estado do Ceará.
Foi o centro da vida social, cultural, econômica e política de Santana do Cariri enquanto residência do Coronel Felinto da Cruz Neves e de sua esposa, Generosa Amélia da Cruz, e alvo de muitos conflitos entre os anos de 1925 e 1927.
Um pouco da história envolvendo o Casarão do Cel. Felinto Cruz
Época do coronelismo no Brasil, em 1925 o prefeito de Santana do Cariri era o Coronel Felinto da Cruz Neves.
No mesmo ano se iniciou um período de disputas pessoais entre o coronel Felinto e o fazendeiro e comerciante Manoel Alexandre, que morava no sítio Ipiranga, mandava feito coronel, e queria a todo custo ser intendente de Santana, já que Santana não tinha prefeitura ainda.
O fazendeiro chegou a ter como aliado de batalhas um irmão do cangaceiro Lampião. Foi um período trágico, com muitas batalhas que levaram pavor a população local e mortes a ambos os lados.
O Casarão é dotado de um porão com acesso pelo quarto principal, que além de servir como despensa, era abrigo e esconderijo em momentos de batalha em que o casarão era atacado. No porão é possível verificar as aberturas nas paredes que serviam para vigia e também apoiar as armas.
Manoel nunca assumiu o poder de Santana do Cariri, contudo, quando parecia que tudo tinha se acalmado, mandou matar o Coronel Felinto. Foi na tarde de 29 de março de 1936, dia de eleições municipais, quando o coronel tentava sua sexta indicação ao comando da cidade.
Na ocasião trágica, a esposa do coronel Felinto, Generosa Amélia da Cruz, se tornou a segunda prefeita do País, ao assumir a cidade no lugar do marido, recém-eleito e assassinado, numa época em que não havia vice-prefeito.
Renda de Bilro
O Casarão também abriga a Associação das Rendeiras de Bilro de Santana do Cariri. À frente do Grupo que existe desde 2009 está a rendeira Maria Luiza Lacerda, que encontramos trabalhando na oportunidade da nossa visita.
O bilro é um pequeno pedaço de madeira ou semente, em que se prende um fio. Com o cruzamento de vários bilros forma-se os pontos da renda.
As rendeiras se sentam diante de uma almofada cheia de palha de bananeira, sobre a qual colocam um papelão com pequenos furos, onde fincam os espinhos de mandacaru, cacto nativo do Brasil, que guiam o complexo vai e vem dos bilros, que sustentam as linhas que são rendadas.
A peça principal desse tipo de renda é a rede que demora aproximadamente 3 meses para ser concluída. Também rendam jogos americanos, toalhas, caminhos de mesa, toalhinhas de bandeija, almofadas, entre outras peças.
Diferente daquela encontrada no litoral do Estado do Ceará, a renda de bilro da cidade é feita com a linha mais grossa. Uma tradição ainda mais rara nos dias atuais, e que elas fazem questão de manter e passar para a próxima geração.
Com poucas artesãs no grupo, uma das preocupações das rendeiras é integrar os jovens. Conforme relato em tom de desabafo, algumas moças se interessam no começo, mas depois abandonam.
Antes de deixarmos o casarão visitamos a lojinha onde estão lembrancinhas, trabalhos das rendeiras e peças do artesanato local.
Museu de Paleontologia da URCA
Do Casarão seguimos para o Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri. É recomendado agendar a visita, o que não tínhamos feito. Por sorte estava tranquilo. A visita é gratuita. Nos solicitaram os certificados de vacinação.
Agradecemos pela atenção e o trabalho realizado pela Elen, que nos guiou de forma brilhante por mais de 1h. Foi uma verdadeira aula, rica em detalhes e informações curiosas e enriquecedoras, principalmente no início da visita quando nos apresentou uma maquete em alto relevo com parte da Chapada do Araripe, onde também conhecemos as camadas do solo da região com o modelo estratigráfico.
O Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens foi criado em 18 de abril de 1985, e em abril de 1988 foi doado à Universidade Regional do Cariri. Estima-se que receba mais de 10 mil visitantes por ano.
Santana do Cariri é conhecida como a Capital Cearense da Paleontologia, isso porque a região abriga uma das maiores concentrações de fósseis do planeta, conservando evidências de 110 milhões de anos.
Mais sobre o acervo
O museu tem disponível um acervo com documentação especializada em algumas disciplinas, como geologia, biologia, paleontologia,
química e física. Junto da parte documental, o museu expõe inúmeras espécimes petrificados, desde vegetais, como troncos, samambaias, pinheiros e frutos, até animais, como moluscos, peixes, anfíbios e répteis.
Também mantém projetos de escavações permanentes de fósseis em toda a Bacia do Araripe, bem como coleta sistemática de fósseis nas frentes de escavações da Pedra Cariri, nos municípios de Nova Olinda e Santana do Cariri.
A visita foi realmente surpreendente! A variedade de fósseis impressiona! Nos chamou a atenção as várias espécies de pterossauros que viviam na região, tanto que tem um geossítio próprio, que infelizmente não visitamos desta vez.
Outro ponto de destaque para nós foi a importância dada aos geossítios do Geopark Araripe. Acreditamos que é primordial trabalhar a informação e a valorização desses espaços, tanto para divulgação como para preservação. No final da visita podemos conferir pequenas maquetes de todos os geossítios.
Geossítio Pontal da Santa Cruz
Acabamos visitando o Pontal da Santa Cruz em um outro dia. O Geossítio fica a 4 km do centro de Santana do Cariri, seguindo a estrada que dá acesso ao topo da Chapada do Araripe, numa altitude de aproximadamente 750 metros.
O acesso ao Pontal pode ser feito de carro ou por meio de uma trilha que começa junto à estrada.
De longe é possível avistar o símbolo que caracteriza este geossítio, a enorme cruz de aço, de 20 metros de altura e 17 toneladas, que segundo crenças populares, é o ícone de proteção da cidade, afugentando males e assombrações.
A cruz de aço foi instalada em 2001, mas a original, de madeira, permanece no local como relíquia. Diz a lenda que o local era assombrado, que se ouviam assobios e que de lá saiam faíscas, assustando a população. A assombração só teria parado após a população sair em procissão e erguer a primeira cruz, e depois, construir a capelinha.
A capela é a Bom Jesus das Oliveiras, e foi erguida em meados do século XX. É exemplo da arquitetura e devoção popular típica do Cariri, onde são construídas capelas em pontos marcantes para o agradecimento por milagres e depósito de promessas dos fiéis.
Do alto do Pontal se tem a melhor vista panorâmica da Chapada do Araripe. Realmente é um lugar mágico.
Menina Benigma Cardoso da Silva
Não poderíamos encerrar esse artigo sem falar da menina Benigna Cardoso da Silva, outro símbolo religioso de Santana do Cariri, também conhecida como a heroína da castidade.
Ela nasceu em 15 de outubro de 1928 e foi morta em 24 de outubro de 1941, quando tinha 13 anos, ao defender-se do assédio de um rapaz de 17 anos, que inconformado e enfurecido, a golpeou por 4 vezes com um facão.
Desde então tornou-se alvo de devoção por religiosos que a consideram uma mártir da castidade. A 2 km do centro da cidade fica o Santuário a Benigna, que foi construído pelos próprios moradores em devoção à jovem santanense.
Durante a edição deste vídeo Benigna foi notícia em todos os meios de comunicação, pois está em andamento o processo de beatificação da jovem, que a tornará a primeira beata do Ceará e a quarta mártir do Brasil.
Com o final do processo de beatificação ela se tornará Santa, e já está aprovado o projeto para a construção do Complexo Turístico de Benigna em Santana do Cariri, que inclui um monumento de 20 metros de altura, santuário, conjunto de salas, áreas de convivência e amplo estacionamento.
Segundo vídeo sobre Santana do Cariri
A visita a Santana do Cariri gerou conteúdo para dois vídeos. O primeiro, onde visitamos os Geossítios Ponte de Pedra e Pedra Cariri, e também a Igreja Matriz de Santana do Cariri, está disponível em artigo aqui no site e também em vídeo no nosso canal no YouTube.
O segundo vídeo com o conteúdo desse artigo pode ser conferido logo abaixo: